sexta-feira, 3 de julho de 2009

Saudade

Escrevo de um país chamado Saudade, numa outra dimensão, talvez um universo paralelo. Aqui o presente real é consumido para que eu possa viver na memória o passado.

Fico deslumbrado ao caminhar pelas ruas: Cinemas apoteóticos expõem em grandes telas os melhores momentos de minha vida; Nos teatros são exibidas recordações que de outra forma não poderiam ser tão vividamente retratadas; Competentes narradores declamam as gloriosas epopéias que um dia eu vivi; E até as mais simples lojinhas revelam fotografias de toques, sorrisos e olhares. Por todo ambiente posso ouvir a doce sinfonia pautada no ritmo do meu coração.

Neste país sou um agente da voz passiva, tudo o que me é permitido fazer é observar. Num surto de desespero, eu tento romper a ilusão, por querer agir, por ambicionar sentir e não somente assistir. Tento estilhaçar o que me divide entre o ver e o viver, é esse maldito vidro, a tal da realidade. Sou expulso de lá, mas por vezes me pego trocando o presente por uma rápida viagem a esse longínquo país.

Só quando volto entendo que sinto saudade de uma representação, do que não existe mais, os personagens, hoje encenam outras histórias, e os lugares, já não são mais os mesmos. Dessa premissa deduzo a mais incontestável realidade: saudade dói.

11 comentários:

Thybério Bastos disse...

Sim, saudade dói.
Os momentos em que o vislumbre de uma época que se passou, um ato que nos faz lembrar de fatos marcados, trazem sentimentos fortes de perda, ainda que vivida, e assim, o que nos resta são lembranças, quase nunca evasivas.

Diógenes disse...

Uma coisa com a qual não aprendi a conviver: O Passado. As Coisas vem-e-vão em uma velocidade tão imensa, que quando percebemos, já não estão mais ao nosso alcance. Ás vezes me bate o arrependimento de não ter aproveitado como deveria o ontem, o antigamente, e prometo a mim mesmo, me esforçar mais o futuro. É uma batalha constante que chamamos de "Nossa própria história". Com as quedas, aprendemos a nos levantar. Nunca se esqueça disto.

Ótimo post, parabéns!!

Vitão disse...

Saudade, uma palavra que só existe na lingua portuguesa.

Parabéns pelo texto Big, vc escreve como se pudesse expressar sua opniao de um modo imparcial.
Gostei bastante
Vô começar a frequentar mais o Blog.

Abraços! (:

Cah* disse...

Seus texto são sempre mais frios, racionais, lógicos, distantes, esse parece que arrancou um pedaço de você né??

Tem uma citação que diz:
“As vezes achamos que construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas. Mas com o passar do tempo descobrimos que grandes eram mesmo os sonhos, e as pessoas pequenas de mais!”

Realidade. Bjo!!!

... disse...

Que texto hein!!!
Só consegui pensar em uma coisa pra comentar:
"A Saudade mostra que o passado valeu a pena"

Unknown disse...

Oi Bradzinho!!
Achei que vc tinha desistido e abandonado o blog, mas to feliz q vc voltou, e voltou c tudo!!
Texto lindo e inspirado,pois consegue traduzir a saudade em palavras..

Michele disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michele disse...

Fiquei supresa ao ver um texto tão nostálgico, vindo de uma pessoa que se julga "jovem demais para ter saudade". De certa forma isso me alivia, porque creio que NUNCA é cedo demais para se perceber que os momentos bons são fugazes, são memoráveis. E que deixam saudade. E que bom que temos momentos assim, dignos de serem lembrados!

Uma de minhas qualidades é sentir, no presente, que algum momento será motivo de uma grande saudade depois. Sempre tive isso. É algo que me faz aproveitar melhor os instantes, como que sorvendo o agora. Gosto de me gabar disso. Gosto de sentir saudade. De matar saudade (isso é o melhor, de fato!)

Este texto é oportuno porque eu estava pensando nisso neste exato momento: sobre em como os sons, cheiros e sabores têm memória. É tudo fisiológico (vou me dar o luxo de pular a aula sobre o sistema límbico e suas implicações neurológicas). Basta saber que estes sentidos são como interruptores para as mais longínquas memórias. Algum cheiro te lembra alguém? A mim sim.

Pensei tambem que certos lugares têm memória também. Como este em que estou agora... Hoje estou numa lan house e, instantaneamente, me lembrei de 2 anos atrás. Era quando eu vinha muito aqui, fazer meus trabalhos. Eu tinha uma vida universitária, um namorado, sonhos que já perdi, ilusões que abandonei.

É... Deu saudade.

Sabe o que é mais chato em ser "adulto"? Fica cada vez mais ridículo ter atitudes de adolescente deprimida.

Saudade... E esse é o lado ruim da coisa: dói. Dói mesmo.

A pergunta que não quer calar (minha frase, né André? rs) é: Até quando?

...

Thiago disse...

Vi seu blog no blog de Thybério e fiquei curioso.

Enfim, saudade só pode ser boa quando não é recorrente.

Anônimo disse...

Oi André! Encontrei seu perfil no Twitter e fiquei curiosa... seus textos são fantásticos, parabéns...
Muito legal ver as cenas da vida com saudade em cinemas e teatros, lembrei daquele texto "Pegadas na Areia", conhece?
Following you.
Abç, Su

Patrícia disse...

Que bom ver um post seu.... já estava com...
SAUDADE!

rsrs, bjs querido! Belo texto como sempre!